A dor de não ser quem você imaginava e o encontro silencioso com quem você é, de verdade.
- vicsciascia
- há 7 dias
- 2 min de leitura
Existe um momento sutil, mas radical, na vida de qualquer pessoa que começa a olhar pra dentro com honestidade. É o momento em que cai a ficha: “Eu não sou a pessoa que achei que seria.”
Não é algo que se diga em voz alta. Às vezes, nem é claro o suficiente pra virar frase. É só um desconforto, uma sensação de inadequação, uma inquietação que insiste: "Alguma coisa não encaixa."
Você se vê adulta, com todas as complexidades do agora, e percebe que ficou distante daquela versão idealizada de si mesma. Talvez você tenha se imaginado mais segura, mais leve, mais estável. Ou mais corajosa, mais reconhecida, mais feliz. Talvez você esteja vivendo exatamente o que queria e, ainda assim, se sentindo vazia. Ou tenha feito tudo “certo”, mas sem nunca ter sentido que aquilo era mesmo seu.
É comum tentar silenciar essa dor com pressa: com metas novas, com mais uma tentativa de performance, com justificativas racionais. Mas, às vezes, o que dói não é a vida que você tem. É o luto pela versão que você não virou. Esse luto é legítimo e ignorá-lo não faz ele sumir — só o empurra pra debaixo de camadas de cansaço, comparação e autoexigência.
É nesse ponto que muita gente chega na terapia: achando que o problema é ser “fraca”, “incapaz” ou “perdida”, quando na verdade está apenas… cansada de tentar caber num molde que nunca foi seu. E aqui começa o que, na minha visão, é o processo mais corajoso que alguém pode viver: desfazer expectativas idealizadas e escolher se encontrar com o real. Com a versão imperfeita, mas possível. Com os limites que frustram, mas também protegem. Com os desejos que sobrevivem ao filtro do medo. Com a história como ela é, não como deveria ter sido.
Essa transição não é glamourosa. É mais sobre sentar no chão do que subir ao pódio. Mais sobre fazer as pazes com a dúvida do que encontrar certezas. Mas, aos poucos, o que antes era angústia vira espaço. Espaço pra se escutar com menos julgamento, pra escolher com mais intenção, pra viver com mais presença.
Não ser quem você imaginava não é fracasso. É o começo de uma relação mais honesta com quem você é. E às vezes, esse encontro vale mais do que qualquer ideal.
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Se esse texto tocou em algo aí dentro, talvez seja um bom momento pra falar sobre isso.
Estou por aqui.
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